Os artistas contam sobre a importância do projeto e as inspirações por trás das releituras de Falcão e Pantera Negra
Os artistas Dgoh e Negritoo participaram do projeto O Poder é Nosso da Marvel. Dgoh fez sua própria versão de Sam Wilson, o Falcão, que depois assume o manto do Capitão América, como visto em Falcão e o Soldado Invernal, disponível no Disney+. Já Negritoo recriou o icônico T’Challa, o próprio Pantera Negra.
Os dois contam um pouco mais sobre seu processo de criação, história de vida, inspirações e desejos de representatividade e igualdade.
O Poder é Nosso: O projeto
O projeto O Poder é Nosso da Marvel se inicia neste mês com o lançamento de roupas estampadas com releituras de personagens pretos do Universo Cinematográfico Marvel (UCM) criadas por cinco artistas pretos brasileiros.
A iniciativa, a primeira a ser feita diretamente para o público do Brasil, foi criada em conjunto com o grupo de afinidade T’Challa, composto por funcionários pretos da Disney, e feita com o objetivo de trazer mais visibilidade para artistas pretos.
Nessa primeira parte do projeto, a Marvel convidou cinco artistas de diferentes partes do país para criarem releituras dos personagens: Pantera Negra, Tempestade, Miles Morales, Mulheres de Wakanda e Falcão, com seus próprios estilos artísticos e bagagem cultural junto da mentoria da estilista Jal Vieira.
Os artistas selecionados são: Negritoo, Crica, Massai, Luna e Dgoh e suas artes foram transformadas numa coleção exclusiva com a C&A, com lançamento para 16 de agosto no e-commerce e 23 de agosto nas lojas físicas. Outros parceiros irão lançar coleções como parte do projeto ao longo do ano de 2022 e 2023.Cada um dos artistas participou da produção de um minidocumentário sobre sua arte e vida e entrevistamos todos para conhecer um pouquinho mais sobre eles. Os minidocumentários de Dgoh e Negritoo estarão disponíveis no canal do Youtube da Marvel Brasil a partir do dia 16 de agosto.
Conheça mais sobre Dgoh e Negritoo a seguir.
O Poder é Nosso: Diego Dgoh, artista das ruas de São Paulo
Quem ficou responsável pela releitura de Falcão foi Diego Dgoh, artista de São Paulo que desde 2006 vem produzindo grafite nas ruas da cidade. Quando pequeno, ele gostava de histórias em quadrinhos e cita os desenhos de super-heróis como influência em seu trabalho até hoje.
Em 2015, quando estava na faculdade de design gráfico, começou a se profissionalizar. “Fui construindo mais conscientemente um estilo próprio e percebi que podia fazer arte e ser remunerado por isso”, conta Diego. Ele cita o trabalho na Fundação Casa como parte importante do processo, quando começou a dar oficinas de forma consistente.
A partir daí, Dgoh foi da Espanha a Portugal aprendendo e produzindo cada vez mais, expôs seu trabalho em diversas cidades da Europa e voltou para o Brasil na pandemia de covid-19, onde tem um ateliê em São Paulo. “Há dois anos que comecei de verdade a me denominar artista, então ver meu trabalho reconhecido é gratificante”.
O Poder é Nosso: O azul de Dgoh
Para sua versão do Falcão, Diego quis trazer algo característico de seu estilo: o azul. “Meus personagens sempre têm esse tom azulado na pele, então eu queria mesclar esses dois universos: o da Marvel e o do Dgoh”, conta ele.
A cor tem um forte significado para o artista, que começou a adotá-la a partir de 2015 na maioria de suas produções. “Foi quando perdi um amigo muito querido para a depressão, comecei a querer trazer uma energia boa, leve, eletrizante para tudo que eu fizesse. Pra mim o azul remete a tudo isso”, explica.
Além de sua marca registrada, Diego pesquisou todos os registros já feitos de Falcão nos quadrinhos e no cinema. “Trouxe uma mistura das armaduras das HQs com a representação cinematográfica dele para criar o meu Falcão”, afirma.
O Poder é Nosso: Abraçar a imagem de um homem preto
Ele espera que seu trabalho sirva para mostrar para mais gente como pessoas pretas podem ser super-heróis também. “Ele recebe o manto do Capitão América, um homem preto recebendo isso, mostrando que ele também representa um país e uma nação tanto quanto o branco”, afirma.
“Ter esse personagem estampado nas camisetas de gente tanto branca como preta, com todo mundo abraçando essa imagem, isso é que é importante e é isso que espero ver com o projeto”, conclui.
O Poder é Nosso: A trajetória de Negritoo
Negritoo é o artista visual e grafiteiro de São Paulo responsável por trazer à vida a versão de Pantera Negra para O Poder é Nosso. Desde sempre rodeado por mulheres, ele diz que a influência feminina é algo muito forte em sua vida, assim como na vida de T'Challa.
“O meu processo até me tornar artista foi muito gradual”, conta Negritoo. Desde o colegial, o artista se envolve com design gráfico, o que o levou a fazer faculdade e pós-graduação na área.
Em 2007 foi sua primeira tentativa com mural, dentro da própria casa. A partir daí, com o boca a boca dos amigos e o boom das redes sociais, Negritoo foi ganhando destaque. “Em 2017, quando participei do Art Battle Brasil foi quando comecei a me autodenominar artista de verdade”, conta.
O Poder é Nosso: A responsabilidade que traz o Pantera Negra
Desde pequeno fã de quadrinhos, Negritoo conta que acompanhou algumas das histórias onde Pantera Negra apareceu. “No início ele ficava muito na posição de coadjuvante, era difícil ter ele como protagonista. Mas daí veio o filme e ele finalmente foi reconhecido”, explica.
Desde a história do príncipe de Wakanda, que ao perder o pai precisa assumir a posição de protetor do reino, até a batalha de Chadwick Boseman, que interpreta o personagem, contra o câncer, tudo envolvendo o Pantera Negra carrega forte significado para seus fãs.
“Eu senti uma conexão muito forte e muita felicidade de poder trazer essa figura à vida, mas também sabia da responsabilidade disso”, conta Negritoo.
O Poder é Nosso: “Eu posso também”
Por isso, o artista visual quer garantir que sua criação tenha um impacto positivo no público. “Eu espero, principalmente, que outras pessoas pretas vejam essa arte feita por um preto brasileiro e saibam que é possível a gente alcançar grandes coisas, que elas também podem”, explica ele.
“Infelizmente vivemos esse problema enorme no país que é o racismo, e muitas vezes os pretos pensam que não são capazes de fazer algo. Quando a Marvel olha pra gente e reconhece nosso trabalho, isso traz representatividade e esperança”, afirma Negritoo.